terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Crítica DVD - Año Bisiesto (Leap Year)


"Todo o inferno está contido nesta única palavra: solidão." - Victor Hugo, autor de "Les Miserables"

Laura é uma jornalista que trabalha a partir de casa e vive uma vida de intensa solidão. Absorvendo com uma certa inveja a felicidade familiar dos seus vizinhos, cuja vida segue pela janela e a fazem criar laços fictícios com eles, dividida entre a existência insípida entrecortada por relações fugazes com homens que só a usam como objecto sexual, o isolamento de Laura vai crescendo e corroendo a sua alma. Longe da família, perde-se nos braços de um homem, Arturo, que por ter tido um único gesto de carinho para ela, a conduz a um mundo de sadomasoquismo, que para Laura podem servir os seus intentos de fugir da sua vida pela via mais definitiva.
A leve sugestão de um trauma de infância na mente de uma mulher que marca os dias no calendário na vã esperança de encontrar o amor. A história pungente de viver em total solidão, que a levam a rodear-se de mentiras para dissimular o seu estado de espírito àqueles que lhe querem bem. Este é o argumento do filme mexicano "Año Bisiesto" ("Ano Bissexto" em português, "Leap Year", em inglês).

Gustavo Sánchez Parra e Monica Del Carmen
Um filme claustrofóbico, perturbador e cruel, desenrolado exclusivamente num apartamento que se baseia em grande parte na performance da actriz Monica Del Carmen e que consegue os objectivos a que o realizador Michael Rowe se propôs (vindo a vencer o prémio Golden Camera, em Cannes, com este filme).

Relembro que o cinema mexicano tem revelado grande potencial, a julgar por este trabalho e pelos filmes do galardoado realizador Alejandro González Iñárritu, que nos trouxe "Amores Perros", "21 Grams", "Biutiful" ou "Babel", por exemplo.


P.S.: Não confundir com o filme "Leap Year", comédia romântica americana, que estreou em Portugal em 2011, com a actriz Amy Adams (título em português: "Tinhas mesmo de ser tu..."). Não tem nada a haver! A sério!... Quem gostar de um destes filmes não pode gostar do outro... :)

2 comentários:

Anónimo disse...

o filme é bem mediano, se não tivesse sido escolhido (estranhamente) em Cannes ninguém teria falado dele...
mesmo assim valeu pela crítica...

Espertinho disse...

Provavelmente está aí um aspecto primordial: se não fossem festivais como Cannes, é possível que estes países só fizessem cinema para consumo interno. Mas gostei da performance dos actores principais. Obrigado pela visita e pelo comentário!