O
Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, também conhecido como
Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça ou mais simplesmente como
Mosteiro de Alcobaça, é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português. Foi começado em 1178 pelos monges de
Cister. Está classificado como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional, desde 1910, tendo sido eleito como uma das sete maravilhas de Portugal, em 2007.
D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, doou e coutou muitas terras na região de Alcobaça a S. Bernardo, em cumprimento da promessa feita, em 1147, quando da conquista de Santarém. É de cerca de 1152 o começo da construção provisória do mosteiro em Alcobaça, tendo a carta de doação sido assinada por D. Afonso Henriques no ano seguinte.
O mosteiro é constituído por uma igreja ao lado da sacristia e, a norte, por três claustros seguidos, sendo cada um circundado, na sua totalidade, por dois andares, assim como também por uma ala a sul. Os claustros, inclusive o mais antigo, possuem, igualmente, dois andares. Os edifícios à volta dos claustros mais recentes possuem três andares. Entre 1178 e 1240, a igreja e o primeiro claustro foram construídos no estilo pré-gótico, da passagem do românico, tendo a Igreja sido inaugurada em 1252 - é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português.
A Igreja é constituída por uma nave central, duas naves laterais, e um transepto, criando a imagem de uma cruz - planta de cruz latina. A arquitectura da igreja de Alcobaça é um reflexo da regra beneditina da procura da modéstia, da humildade, do isolamento do mundo e do serviço a Deus. Apesar da sua enorme dimensão, o edifício apenas sobressai através dos seus elementos de estrutura necessárias que se dirigem ao céu. A concepção arquitectónica deste monumento, desprovida de decoração e sem imagens, como ordenava a Ordem de Cister, apresenta uma grandiosidade e beleza indiscutíveis.
O monumento tem sido sempre encarado como uma excepção no quadro do modo gótico produzido em Portugal como uma peça única e experimental sem antecedentes nem descendentes.
Os Túmulos:
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Túmulo de D. Pedro |
Dentro da igreja encontram-se os túmulos dos reis D. Afonso II (1185 -1223; túmulo datado de 1224) e de D. Afonso III (1210 -1279). Situam-se dos dois lados da Capela de São Bernardo (contendo a representação da sua morte) no transepto a sul. Diante destes túmulos, numa sala lateral, posicionam-se oito outros túmulos, nos quais se encontram D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, e três dos seus filhos. Um outro sarcófago pertence a D. Urraca, a primeira mulher de D. Afonso II. Não se conhece a história dos outros sarcófagos, estando estes, hoje em dia, vazios após terem sido novamente selados entre 1996 e 2000.
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Túmulo D. Inês de Castro |
Os túmulos de D. Pedro I (1320 -1367), com o cognome O Terrível ou também O Justo, e o de D. Inês de Castro (1320 -1355), que se encontram em cada lado do transepto, conferem, ainda hoje atribuem um grande significado e esplendor à igreja. D. Pedro I casou em 1336, em segundas núpcias, com D. Constança Manuel (1318-1345), uma princesa castelhana. Devido a várias guerras entre Portugal e Castela, D. Constança só chegou a Portugal em 1339. No seu séquito, ela trazia a camareira Inês de Castro, que provinha de uma antiga e poderosa família nobre galega. D. Pedro I apaixonou-se por ela. Em 1345, D. Constança morrera catorze dias após o parto do seu filho sobrevivente, D. Fernando I. D. Pedro I passou a viver publicamente com D. Inês, nascendo desta relação três filhos. O pai de D. Pedro I, D Afonso IV, não aceitou esta relação, combatendo-a e, em 1355, condenou D. Inês à morte por alta traição. Após subir ao trono, D. Pedro I vingou a morte da sua amada (afirmando ter-se casado com ela em segredo no ano de 1354) e decretou que se honrasse D. Inês como rainha de Portugal. Quando em 1361 os sarcófagos estavam prontos, O Rei mandou colocá-los na parte sul do transepto da igreja de Alcobaça e trasladar os restos mortais de D. Inês de Coimbra para Alcobaça, sob o olhar da maior parte da nobreza e da população. No seu testamento, D. Pedro I determinou ser enterrado no outro sarcófago de forma a que, quando o casal ressuscitasse no dia do Juízo Final, se olhassem nos olhos
Actualmente, os túmulos são o destino de muitos apaixonados, que muitas vezes os visitam no dia do seu casamento, para fazerem juras de amor eterno e de fidelidade defronte aos dois túmulos.
Curiosidades:
- Antigamente, o chão estava todo ele coberto por estas placas funerárias pois, de acordo com uma regra cisterciense do ano de 1180, os abades deviam ser enterrados na Sala do Capítulo. Assim, os monges eram obrigados a tomar as suas decisões em cima dos túmulos de abades falecidos. Este género de enterro era uma grande excepção dentro da ordem cisterciense pois, normalmente, os enterros estavam proibidos dentro dos mosteiros. Por esse motivo, encontra-se uma porta, com acesso ao exterior, no transepto a sul, chamada de Porta da Morte, pois os monges falecidos eram transportados através dela para serem enterrados. Não obstante este facto, durante os trabalhos de renovação da abadia de Alcobaça, foram encontrados debaixo do chão e também nos muros monges enterrados, para os quais, obviamente, foi feita uma excepção àquela regra.
- Era apenas no Parlatório que os monges estavam autorizados a falar com um representante do abade. Por princípio, os monges estavam obrigados ao silêncio, com excepção da reza, e só se podiam transmitir informações muito necessárias. Por esse motivo, muitos utilizavam uma linguagem gestual.
- No lado oeste da ponta a sul, o Refeitório abria-se para a antiga cozinha medieval, hoje uma sala lateral, que conduz ao claustro de D. Afonso VI. Alguns metros à frente, encontra-se na mesma parede uma abertura de dois metros de altura e 32 cm de largura, que conduz à sala, não existindo nenhuma explicação científica para ela. De acordo com uma lenda, esta abertura destinava-se ao controle do peso dos monges. Uma vez por mês, os monges tinham de passar por esta porta, o que só era possível fazendo-o de lado. Se, devido ao excesso de peso, os monges não conseguissem passar pela abertura, eram obrigados a fazer dieta.
- Na Sala das Conclusões encontravam-se as estátuas dos reis portugueses que, entre os anos de 1765 e 1769 foram mudadas para a actual Sala dos Reis que, anteriormente, tinha servido de capela. As 19 estátuas dos reis, que ainda se conservam, encontram-se nessa sala, em cima de pedestais. Nos azulejos azuis, datados do último terceto do século XVIII, que revestem as paredes da Sala dos Reis, representou-se a história da fundação do Mosteiro de Alcobaça. Nesse local, encontra-se o grupo de estátuas de D. Afonso Henriques, de São Bernardo de Claraval e do Papa Inocêncio II durante a coroação imaginária do rei português no ano de 1139.
- No século XVIII, entre o muro do Mosteiro orientado a sul e o próprio Mosteiro encontravam-se jardins imponentes, os
Jardins Franceses. Destes jardins ainda existe um poço em forma de elipse e um obelisco, que datam provavelmente das modernizações iniciadas no século XVI, sob a influência do barroco, na parte ocidental. Os visitantes do século XVIII louvavam estes jardins
Em 1834 os monges foram obrigados a abandonar o mosteiro, na sequência da expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal durante a administração de Joaquim António de Aguiar, um primeiro-ministro notório pela sua política anti-eclesiástica.