Seja usando a desculpa das imposições da troika, seja porque este governo opta quase exclusivamente por medidas que incidem sobre a força de trabalho, em vez de procurar alternativas que fomentem o emprego e diminuam as desigualdades sociais, o facto é que esta situação de crise, influenciada por o que se passa pelo mundo fora, não parece ter um fim à vista. Pelo mundo fora não! Aparentemente há alguns nichos que têm escapado ao tsunami financeiro, sendo que inclusive registam lucros e desenvolvem-se a olhos vistos. Um desses nichos é a China.
Soterrada sob a capa do comunismo imposta por Mao Tsé-Tung, o país parecia condenado a uma eventual queda, seguindo a da Rússia e cedendo à pressão do capitalismo, mas, contrariando as previsões, os chineses conseguiram dar a volta por cima e, mercê de uma integração simbiótica nos meios capitalistas é agora país dominante e faz inveja aos todo-poderosos americanos, Reis do capitalismo, agora seus devedores. Vários factores conduziram a este estado de coisas, mas um deles foi, sem dúvida, a total falta de condições e direitos que os trabalhadores chineses têm, levando a que estes produzam o que quer que seja por "uma malga de arroz". Ora com estes "custos de produção", foi fácil para os chineses conseguirem entrar em todos os mercados e competir desigualmente com as empresas de todo o mundo.
Num efeito dominó, a economia que já estava doente, ficou moribunda, pois apesar de alguma tentativa de apostar na qualidade, contrariando a já épica falta de qualidade dos artigos chineses, rapidamente os empresários, apoiados por governos incompetentes como o nosso, descobriram que era mais fácil e menos trabalhoso recorrer ao velho truque de "manter os salários o mais baixo possíveis" e "despedir trabalhadores de forma a fazer com três o trabalho que se fazia com seis".
Ora isso recorda-me que, quando eu era puto, costumava-se usar uma expressão que significava trabalhar muito por pouco salário, que era (desculpem-me o possível racismo...) "trabalhar como um preto", isto é, trabalhar como os negros que emigravam dos PALOP's para Portugal em busca de melhores condições de vida e iam para a Construção Civil, trabalhar por metade ou menos que um salário mínimo, a maioria deles em condições de ilegalidade, com os problemas que isso implica.
Acho que esta expressão deverá ser actualizada para o Séc. XXI para "trabalhar como um chinês", uma vez que o que a grande maioria dos patrões neste país sonha com funcionários que trabalhem 8 horas por dia (pelo menos), ganhem o mínimo possível, só sofrendo por (infelizmente para eles) os trabalhadores terem conquistado alguns direitos nos "tempos de vacas gordas" e agora ser difícil convencê-los a trabalhar por um "prato de bacalhau". Mas eles lá vão fazendo um pressing para se baixar a fasquia e prova disso foi a última concertação social que veio piorar a vida dos trabalhadores, como é habitual nestes acordos!
Por isso é que quando ouço o Capitão de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, aparecer na televisão e falar de uma possível nova revolução neste país, apoio-o a 100% pois da última vez que me olhei ao espelho, não me pareceu que me estivesse a transformar num chinês, nem a ficar com a pele mais amarela...
P.S.: Se puderem, contribuam para a vossa própria existência e comprem produtos nacionais. Evitem os artigos chineses (sempre que possível), pois quem contribui para o sistema merece fazer parte dele! Evitem que as empresas se queiram deslocalizar para lá e que tenhamos que lhes pagar a nossa energia eléctrica.
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