terça-feira, 8 de novembro de 2011

A piece of my mind #12

Quem leu a minha crónica anterior com este título, sabe que falei mal da TVI. Mas para provar que não sou rancoroso vou agora falar um pouco melhor. Não da TVI, que isso seria impossível, mas do canal noticioso TVI24. Tive oportunidade de ver ontem o programa "Olhos Nos Olhos" nesse canal, um debate moderado pela excelente jornalista Judite Sousa e que pôs lado a lado a Profª Maria João Valente Rosa e o opinionista residente, o fiscalista Dr. Henrique Medina Carreira. E é deste último que vos quero falar... No mais recente programa com a temática "Estado Social e Demografia", o Dr. Medina Carreira deixou mais alguns avisos à sociedade de forma a mentalizar os portugueses das supremas dificuldades que se avizinham, não só a nós, mas a todos os países da Europa. Parece-me quase incrível que este senhor de 80 anos cumpridos, seja dos poucos (senão o único) com a coragem para "assustar" toda a gente com as suas previsões, sem medo de ferir susceptibilidades e chamando as coisas pelo nome. E por isso tiro-lhe o meu chapéu! 
Cada vez mais assistimos a discursos políticos que nos dizem para termos paciência, que após algumas medidas de austeridade vamos todos poder comprar BMW's e televisores LCD outra vez e que é possível sairmos desta crise, quando a triste e tenebrosa realidade é que não, não vamos sair da crise. Estamos a viver num país de serviços, onda cada vez mais e mais gente quer trabalhar em escritórios, ou em call-centers, ou num qualquer outro emprego onde não suje as unhas, ainda que não sirva de nada para o país mas apenas os interesses de uma empresa privada qualquer que após ter facturado alguns euros vai decretar insolvência. Os nossos jovens são "empurrados" até ao final do 12º ano, por políticas de "novas oportunidades" que só servem para que os governos apresentem falsas estatísticas da nossa alfabetização e escolaridade, mas que só produzem uma tonelada de tipos que têm todos o 12º ano e que só arranjam colocação os que têm cunhas, ficando os restantes, independente da sua capacidade ou mérito, a engrossar as filas do desemprego. Eu, como pai que sou, compreendo o desejo de todos os pais que os seus filhos vão para as Universidades, mas não estaríamos melhor se admitissem que muitos putos não têm estofo para a aprendizagem e mais valia arranjar-lhes uma "arte", tais como serralheiro ou trolha, que é o que se fazia antigamente e havia trabalho para todos. Arriscamo-nos a gerar uma sociedade de doutores no desemprego, mas sem alguém que nos arranje uma canalização que entupiu.

Mas o que o Dr. Medina Carreira mais evidenciou, foi que hoje em dia Portugal já não é um país de indústrias, mas sim de serviços. Fecharam-se todas as fábricas têxteis onde a minha avó e milhares de mulheres trabalharam uma vida inteira e todas as indústrias metalúrgicas onde o meu avô laborou até à reforma e o nosso país actualmente não produz quase nada. A agricultura e as pescas em decadência, o turismo mal aproveitado e ainda há quem não tenha coragem de admitir que somos um país à deriva. O Dr. Medina Carreira tem, e eu agradeço por isso a quem já foi Ministro das Finanças no início da nossa existência pós-ditadura, a quem vê o mundo como um historiador, que domina a área da fiscalidade, a quem tem quase 40 anos de publicações literárias, mas acima de tudo (e mais importante ainda) a alguém que "os tem no sítio", num país de políticos demagogos, de manifestantes sem expressão, de contestações paupérrimas e de um povo que continua a se deixar iludir como um bebé a quem lhe dão uma chucha para ver se ele se cala. 
Não se cale, Dr. Medina Carreira. Não se cale, por favor!...

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