quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril: sempre!

Celebra-se hoje o 38º aniversário da revolução que teve lugar no dia 25 de Abril de 1974, em que uma força revolucionária militar, liderada por um grupo de superiores hierárquicos que ficariam conhecidos pelo nome de "Capitães de Abril", se insurgiu contra as décadas de ditadura fascista que tinham sido impostas pelo regime Salazarista e que mantinham o seu jugo sobre esta nação, restringindo os direitos da sua população e mantendo este país num limbo que o conduzia a um desenvolvimento incrivelmente lento ou nulo. Tantos foram os torturados, aprisionados, amordaçados por este regime, que foi com alegria que o povo surgiu nas ruas há 38 anos atrás para receber os soldados que impunham a mudança oferecendo-lhes cravos que estes colocavam nas espingardas e assim a revolução foi virtualmente pacífica, tal como se impõe nos brandos costumes da nossa gente.
Hoje em dia, os desafios são outros. Portugal evoluiu aos poucos e colocou-se a par das grandes nações europeias e há 26 anos que pertence ao grupo dos que formaram a Nova Europa, dos que se juntaram para criar uma União e que agora descobrem que, se em Portugal havia cravos, esta Europa não é um "mar de rosas"... As dívidas acumulam-se decorrentes de anos e anos de desperdícios financeiros e países como o nosso têm agora que voltar a reprimir o povo com novas grilhetas feitas de euros. Se antes estávamos fisicamente presos nos cárceres do Estado Novo, agora estamos numa espécie de "liberdade condicional" que nos obriga a penhorar o futuro dos nosso filhos e a ter esperança de ainda lhes deixar pelo menos um mealheiro cheio de cêntimos de herança.
Hoje, nas comemorações oficiais da revolução, houve quem se colocasse à parte, sob o pretexto de sentir que actualmente o orgulho dos feitos de '74 se desvanece ao ver o estado da nação que espolia os pobres e ignora as grandes fortunas que continuam bem de saúde. Não concordo com isso. Comemorar o 25 de Abril é antes de mais mostrar respeito pela incrível coragem daqueles militares e civis que tomaram as ruas e correram risco de vida para lutarem pela sua mais profunda convicção. É manter na memórias dos mais jovens que Portugal há menos de 4 décadas não tinha a possibilidade de pertencer ao grupo dos que têm actualmente Playstations, iPhones, TV por Cabo e comem em McDonalds. Seriamos um país em que não haveria "direito à opinião" e quem telefonasse para a televisão a dizer que não concordava com as medidas do governo seria procurado pela PIDE e provavelmente fuzilado. Gajos que escrevem em blogues o que lhes vai na alma seriam um produto de ficção...
Não comemorar o 25 de Abril é tomar os nosso direitos como certos e desistir de acreditar que mesmo aqueles que nos retiram, como o Subsídio de Natal ou de Férias, voltarão a ser nossos. É aceitar que o nosso destino fique nas mãos de um governo de alternância PS/PSD, de sindicatos corrompidos pela mão partidária, de jornalistas vendidos ou amedrontados, de um sistema que não sendo tão visível como o de Salazar, faz a mesma obra sem chocar tanto. Antes de 1974 quantos de nós não fomos forçados a deixar o país, a família e os amigos e a recorrer à emigração e não é que em 2012 voltamos ao mesmo e temos um governo que incentiva esse "abandono do pais"???
Por isso, se querem mesmo contestar a situação actual do país, festejem efusivamente o 25 de Abril e recordem o espírito desses revolucionários e deixem-se de ser (como alguém já nos chamou) uns "lamechas" e façam algo pela mudança!
Pois já no passado tivemos visionários que se rebelavam contra a estagnação do país, mas essas sábias palavras mantêm-se actuais. Se já não nos falta liberdade, o que fizemos com ela?

"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!" 

Fernando Pessoa, in "Mensagem"



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