quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Piece of My Mind #18

O futebol cada vez mais perde a sua magia e vai-se tornando num negócio multimilionário sem alma e cada vez menos interessante. Quem vos escreve isto é um fã incondicional deste desporto, amante da arte do jogo mais bonito de sempre, mas que com o passar dos anos assiste ao degradar da ligação deste evento com o seu apaixonado público.

Hoje em dia, o advento das SAD's transformou progressivamente aquele que era um desporto que movimentava as gentes, num desporto que movimenta os euros, os dólares e uma ou outra moeda que ainda tenha valor, sem se importar com a vertente lúdica, social e de construção moral que já teve em tempos idos, tudo em prol das fortunas que circulam entre desportistas, patrocinadores, dirigentes e casas de apostas.
Há não muitos anos atrás, o jogo de futebol disputado, quase invariavelmente, num domingo à tarde fazia desse dia, normalmente o dia da família, uma união entre pais e filhos, entre maridos e mulheres, entre amigos, que se reuniam, colocavam os cachecóis ao pescoço e as bandeiras debaixo do braço e partilhavam juntos da experiência que era ir em grupo (em família!) ao Estádio das Antas (No meu caso...mas certamente que os adeptos dos restantes clubes encontram aqui a respectiva referência às suas próprias "catedrais" deste desporto/religião) e era um dia de festa quase todos os fins-de-semana. 

Gomes Amaro
Aqueles que não podiam ir ver o jogo, não havendo as transmissões televisivas a torto e a direito, ficavam de rádio colado ao ouvido a escutar a emissora preferida que, para mim, invariavelmente tinha o clímax no espantoso relato com cheirinho do Brasil que era efectuado pelo mítico Gomes Amaro e que tinha sempre aquele sambinha gostoso quando havia um golo: "Que bonito é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando, vendo a rede balançar...".
Não havia melhor forma de ver a bola! E pelo caminho parava-se numa tasquita para "matar o bicho", comia-se uma sandes de rojões ou uma bifana e era um dia em cheio, pois no dia seguinte voltava o emprego de sempre e a escola dos putos, onde se discutia os jogos de domingo sempre com cordialidade e com muito menos "casos do jogo", como agora é moda.

Estádio do Dragão
Nos dias de hoje, o futebol passou para as 20:00, de forma a agradar às televisões que o transmitem "em horário nobre" e aos cafés e restaurantes que têm que gramar com o pagamento da SportTv, pelo que são compensados com jantares e buchas que os clientes vão consumindo não fosse essa a "hora do tacho"...
Quem vai ao estádio, suporta a frieza dos tempos modernos, cadeiras mais apertadas que num avião da EasyJet e o transtorno de ocupar lugares marcados que impede, se encontrarmos um amigo por coincidência à porta do estádio de vermos o jogo com ele pois o bilhete que ele adquiriu é do lugar 7B da fila 23 e o nosso é o 23D da fila 5...
As famílias que querem ver o jogo têm que abrir bem as carteiras e comprar lugares anuais, pois às SAD's interessa é o dinheiro em caixa e desde que os sócios paguem não lhes interessa se deixam o lugar vazio ou não. Outra solução é trabalhar na TMN ou outro patrocinador qualquer e ter direito a uns lugares de borla que servem para os estádios não parecerem tão vazios ainda que muitas vezes sejam ocupados por gajos que conhecem alguém que lhes oferece o bilhete, seja porque não gosta das confusões de ir a um estádio, seja porque até é de outro clube e só vai de vez em quando para "meter nojo"...

Estádio das Antas
E assim, os velhotes (como eu) que viam jogos quando os clubes viviam quase das suas quotas deixaram de ir aos estádios e muita mais gente perdeu o gosto por ver esse grande espectáculo ao vivo, preferindo ficar por casa, abrir uma mini e um pacote de batata-frita e ver o jogo pela net, que é mais cómodo e barato...
No meio das polémicas que a Comunicação Social vai criando, semana após semana, do desvirtuar da magia deste desporto e dos tubarões que vão vivendo em redor deste filão de dinheiro, o futebol vai se metamorfoseando numa caricatura do que foi e resta-nos a memória dos golos do saudoso Gomes Amaro nos seus relatos para o "Quadrante Norte" para recordarmos porque raios é que gostamos desse jogo!...

Relato de Gomes Amaro 
(FC Porto x Bayern Munique - Final da Liga dos Campeões 1987 - 1-1 golo de Madjer)

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