sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Piece of My Mind #24


Apesar de neste momento não me ser possível dar continuidade a este projecto que foi este blog, saio temporariamente da inactividade para dar a minha modesta opinião sobre um assunto que mexe com toda a gente e que não deixa ninguém indiferente, uma vez que é uma temática que está e estará na ordem do dia durante (previsivelmente) imenso tempo: a recuperação económica.

Refiro-me a uma notícia recente que identifica algumas das empresas que receberam mais incentivos fiscais do Governo Português. Curiosamente, uma boa parte destas e que até acabaram por ser agraciadas com a maior fatia destes incentivos são empresas sedeadas na Madeira. Estas ilhas, que são uma privativa República das Bananas para o Sr. Alberto João Jardim, homem intocável do partido do governo que reina neste arquipélago como um semi-deus inabalável, aconteça o que acontecer, desde que continue a vencer as eleições (haja o buraco nas contas públicas que houver). Mas a Madeira também tem estas empresas beneficiadas fiscalmente pelo nosso Governo, sem que se justifique por uma inigualável criação de emprego ou outra razão objectiva, já que o desemprego na Madeira também existe e a taxa nacional de desemprego não diminui e só aumenta.

É que este Governo, por vezes justifica estas benesses fiscais com a desculpa de que estas empresas ajudam à criação de emprego, tal como o caso de outro “regente”, este do mundo empresarial, o Sr. Eng.º Belmiro de Azevedo e da sua SONAE, também uma das contempladas com benefícios fiscais. Aceita-se esse argumento, mas é urgente questionar este governo e as suas políticas de direita que só parecem ter alguma preocupação com o que os industriais e empresários precisam e que só com manifestações populares e o desagrado destes patrões em relação a mexidas na TSU decidiu abortar esta ideia, caso contrário lá estaria outra vez o povo a ser penalizado mais uma vez.
Compreendamos que existem dois caminhos distintos para tentar inverter o actual estado da situação económica caótica da nossa nação: o primeiro, passa por reduções salariais, corte de subsídios e aumento de impostos. Esta medida, tem sido amplamente utilizada pelo nosso Governo, sempre com a Troika como “culpada”. Beneficiados com estas medidas? O patronato, que diminui a carga salarial e consegue manter aqueles números de “aumento de lucros” que tanto gostam de apresentar no final do ano. Prejudicados? Os trabalhadores, que vêem ainda mais diminuído o seu poder de compra e diminuem ainda mais o seu consumo. Ora se aceitarmos este argumento de que o povo português é composto por 10 milhões de pessoas e terá nas suas hostes, digamos, uns 100 mil milionários e pessoas com rendimentos suficientes para não serem afectados por esta, nem por mais nenhuma crise, concluímos que 99% da população será o grosso do “povo” e o restante 1% os ditos “patrões”. Esta disparidade numérica leva a que fosse inteligente pensar que o “povo” ainda que tendo menos dinheiro, merece o respeito dos números, já que, até prova em contrário, 99 > 1… Mas não é isso que acontece em Portugal! Ano após ano, governo após governo, o “povo” é continuamente desrespeitado e os “patrões” são sempre alvo da preocupação dos economistas.

O que nos leva ao segundo caminho possível… Imaginem um país em que se decide não pela diminuição, mas pelo aumento dos salários. Um país em que o “povo” recupera o seu poder de compra. Um país em que as pessoas têm empregos onde são remunerados de uma forma aceitável (e não num esclavagismo encapotado) e sentem prazer em ir trabalhar e vontade em produzir. Um país em que é possível aumentar os impostos à população em 50 euros por mês, pois os ordenados aumentaram em 100. Um país em que as pessoas deixam de entregar as casas aos bancos e estes voltam a receber prestações em vez de andares e casas que não cabem nos cofres. Um país em que um empresário, como o Sr. Eng.º Belmiro de Azevedo, deixa de receber benefícios fiscais, mas ganha com o aumento do consumo nos seus hipermercados, mercê de uma população com renovado poder de compra. Um país em que, em vez de beneficiarem os empresários para trazerem fábricas para Portugal onde se produzem automóveis e novas tecnologias, se beneficiam os trabalhadores para que estes possam adquirir esses automóveis novos e essas novas tecnologias (tal como o Sr. Henry Ford compreendeu há muitos anos atrás). Um país em que as empresas produzem mais para enfrentar esse aumento da procura e necessitam de criar novos e seguros postos de trabalho para conseguirem gerar produção suficiente. Um país em que a máquina económica se dinamiza e não estagna.

Este é o segundo caminho… mas para lá chegar não é fácil! A única forma passa por deixar de penalizar os 99%, que já estão a chegar a um ponto quase irreversível, a perder as suas casas, a sobre-endividarem-se e a fugir do país em desespero e penalizar um pouco os tais de 1%, aqueles que ainda têm capacidade económica para aguentar um pouco de “diminuição de lucros”, aqueles que podem pedir empréstimos aos bancos, aqueles que podem recuar um pouco agora, para avançar mais tarde. Esses é que têm margem de manobra! Sobre esses é que falta incidir, senhores do Governo e da Troika! Cortar na corrupção, na economia paralela, nos gastos desnecessários, em carros novos para os governantes, em pensões exorbitantes para ex-políticos, em acumulações de cargos de empresários e em “sacos azuis” e contas offshore! Penalizar criminalmente e de uma forma severa quem pertence ao clube dos 1% e ignora o sofrimento e as dificuldades dos restantes 99%, incorrendo nestes crimes em que lesam o Estado português financeiramente!

Só é preciso coragem e vontade política… senão, resta ao “povo”, mostrar de novo a força dos números, a força dos seus 99% e voltar às ruas, Uma vez e outra e outra e outra, até o cenário mudar!...



Lembrem-se que o Homem já viveu (e poderá voltar a viver) sem dinheiro, mas o dinheiro não vive sem o Homem!