Apesar
de neste momento não me ser possível dar continuidade a este projecto que foi
este blog, saio temporariamente da inactividade para dar a minha modesta
opinião sobre um assunto que mexe com toda a gente e que não deixa ninguém
indiferente, uma vez que é uma temática que está e estará na ordem do dia
durante (previsivelmente) imenso tempo: a recuperação económica.
Refiro-me
a uma notícia recente que identifica algumas das empresas que receberam mais
incentivos fiscais do Governo Português. Curiosamente, uma boa parte destas e
que até acabaram por ser agraciadas com a maior fatia destes incentivos são
empresas sedeadas na Madeira. Estas ilhas, que são uma privativa República das
Bananas para o Sr. Alberto João Jardim, homem intocável do partido do governo
que reina neste arquipélago como um semi-deus inabalável, aconteça o que
acontecer, desde que continue a vencer as eleições (haja o buraco nas contas
públicas que houver). Mas a Madeira também tem estas empresas beneficiadas
fiscalmente pelo nosso Governo, sem que se justifique por uma inigualável criação
de emprego ou outra razão objectiva, já que o desemprego na Madeira também
existe e a taxa nacional de desemprego não diminui e só aumenta.
É que
este Governo, por vezes justifica estas benesses fiscais com a desculpa de que
estas empresas ajudam à criação de emprego, tal como o caso de outro “regente”,
este do mundo empresarial, o Sr. Eng.º Belmiro de Azevedo e da sua SONAE,
também uma das contempladas com benefícios fiscais. Aceita-se esse argumento,
mas é urgente questionar este governo e as suas políticas de direita que só
parecem ter alguma preocupação com o que os industriais e empresários precisam
e que só com manifestações populares e o desagrado destes patrões em relação a
mexidas na TSU decidiu abortar esta ideia, caso contrário lá estaria outra vez
o povo a ser penalizado mais uma vez.
Compreendamos
que existem dois caminhos distintos para tentar inverter o actual estado da
situação económica caótica da nossa nação: o primeiro, passa por reduções
salariais, corte de subsídios e aumento de impostos. Esta medida, tem sido
amplamente utilizada pelo nosso Governo, sempre com a Troika como “culpada”.
Beneficiados com estas medidas? O patronato, que diminui a carga salarial e
consegue manter aqueles números de “aumento de lucros” que tanto gostam de
apresentar no final do ano. Prejudicados? Os trabalhadores, que vêem ainda mais
diminuído o seu poder de compra e diminuem ainda mais o seu consumo. Ora se
aceitarmos este argumento de que o povo português é composto por 10 milhões de
pessoas e terá nas suas hostes, digamos, uns 100 mil milionários e pessoas com
rendimentos suficientes para não serem afectados por esta, nem por mais nenhuma
crise, concluímos que 99% da população será o grosso do “povo” e o restante 1%
os ditos “patrões”. Esta disparidade numérica leva a que fosse inteligente
pensar que o “povo” ainda que tendo menos dinheiro, merece o respeito dos
números, já que, até prova em contrário, 99 > 1… Mas não é isso que acontece
em Portugal! Ano após ano, governo após governo, o “povo” é continuamente
desrespeitado e os “patrões” são sempre alvo da preocupação dos economistas.
O
que nos leva ao segundo caminho possível… Imaginem um país em que se decide não
pela diminuição, mas pelo aumento dos salários. Um país em que o “povo”
recupera o seu poder de compra. Um país em que as pessoas têm empregos onde são
remunerados de uma forma aceitável (e não num esclavagismo encapotado) e sentem
prazer em ir trabalhar e vontade em produzir. Um país em que é possível
aumentar os impostos à população em 50 euros por mês, pois os ordenados
aumentaram em 100. Um país em que as pessoas deixam de entregar as casas aos
bancos e estes voltam a receber prestações em vez de andares e casas que não
cabem nos cofres. Um país em que um empresário, como o Sr. Eng.º Belmiro de
Azevedo, deixa de receber benefícios fiscais, mas ganha com o aumento do
consumo nos seus hipermercados, mercê de uma população com renovado poder de
compra. Um país em que, em vez de beneficiarem os empresários para trazerem
fábricas para Portugal onde se produzem automóveis e novas tecnologias, se
beneficiam os trabalhadores para que estes possam adquirir esses automóveis
novos e essas novas tecnologias (tal como o Sr. Henry Ford compreendeu há
muitos anos atrás). Um país em que as empresas produzem mais para enfrentar
esse aumento da procura e necessitam de criar novos e seguros postos de trabalho
para conseguirem gerar produção suficiente. Um país em que a máquina económica
se dinamiza e não estagna.
Este
é o segundo caminho… mas para lá chegar não é fácil! A única forma passa por
deixar de penalizar os 99%, que já estão a chegar a um ponto quase
irreversível, a perder as suas casas, a sobre-endividarem-se e a fugir do país
em desespero e penalizar um pouco os tais de 1%, aqueles que ainda têm
capacidade económica para aguentar um pouco de “diminuição de lucros”, aqueles
que podem pedir empréstimos aos bancos, aqueles que podem recuar um pouco agora,
para avançar mais tarde. Esses é que têm margem de manobra! Sobre esses é que
falta incidir, senhores do Governo e da Troika! Cortar na corrupção, na
economia paralela, nos gastos desnecessários, em carros novos para os governantes,
em pensões exorbitantes para ex-políticos, em acumulações de cargos de
empresários e em “sacos azuis” e contas offshore! Penalizar criminalmente e de
uma forma severa quem pertence ao clube dos 1% e ignora o sofrimento e as dificuldades
dos restantes 99%, incorrendo nestes crimes em que lesam o Estado português
financeiramente!
Só é
preciso coragem e vontade política… senão, resta ao “povo”, mostrar de novo a
força dos números, a força dos seus 99% e voltar às ruas, Uma vez e outra e
outra e outra, até o cenário mudar!...
Lembrem-se que o Homem já viveu (e poderá voltar a viver) sem dinheiro, mas o dinheiro não vive sem o Homem!